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Violência contra os professores do Paraná chama a atenção para o tratamento dado ao setor da educação no país

Escrito po: Maria Aparecida Faria

11/05/2015

O país e o mundo viram a selvageria deflagrada contra os servidores paranaenses; manifestações de repúdio e indignação se multiplicam contra onda conservadora

 

As cenas registradas no Paraná pelos fotógrafos e transmitidas pelas emissoras de TV de todo o país em 29 de abril deixaram atônitos e cobriram de vergonha a todos nós, brasileiros e trabalhadores, por sua selvageria e covardia contra os professores e demais profissionais da educação daquele Estado, que realizavam um protesto pacífico em frente à Assembleia Legislativa. Um “espetáculo” de horror e crueldade que mostrou a face déspota e truculenta do governador Beto Richa (PSDB) para a mídia brasileira e internacional. Uma ação só vista em sociedades vitimadas por ditaduras ou em processo de guerra civil. Uma ignomínia que mancha de forma contundente a jovem democracia brasileira.

 

Imagens que apresentaram todo o aparato repressivo e autoritário do Estado sendo utilizado contra cidadãos brasileiros que se dedicam cotidianamente à tarefa de educar nossos filhos e filhas. Centenas de policiais do Batalhão de Choque, bombas de gás lacrimogêneo, cachorros da raça pit Bull, gás de pimenta, balas de borracha, caminhões blindados e muita, muita violência. O resultado deste massacre não poderia ser pior: mais de 200 servidores estaduais feridos, alguns deles gravemente. O motivo: os trabalhadores queriam acompanhar a votação de Projeto de Lei do governo do Estado conhecido como “confisco da previdência”, que lhes tira direitos adquiridos historicamente através de muita luta.  Um direito que a Justiça do Estado reiterou com a liberação de uma liminar que permitia o acesso dos manifestantes às galerias da Assembleia Legislativa.

 

Mesmo com a autorização dada pelo Judiciário, o governador e o presidente do Legislativo, o também tucano Ademar Traiano, optaram pelo aparato militar e pela intervenção direta e desigual contra os trabalhadores. Desta forma, com total consciência das atitudes que seriam tomadas a partir dali, deram o sinal verde para que suas tropas atacassem os servidores estaduais. Uma postura política violenta, conservadora e retrógrada que ilustra muito bem o modo neoliberal de administrar do governador do Paraná, que desde fevereiro vem tratando com indiferença e desrespeito os professores que aderiram à greve. Uma atitude que só fez reascender nos trabalhadores o brio e a dignidade da luta. Sentimentos que ficaram expressos na Assembleia da categoria realizada no último dia 05, quando 15 mil servidores disseram sim! à manutenção da greve em todo o Estado.

 

Como entender este tipo de comportamento adotado por um governador em um momento em que as Nações intensificam seus investimentos na área de Educação como um instrumento de humanização, de criação de possibilidades e, principalmente, indutor do desenvolvimento pessoal e econômico de seus cidadãos e de consolidação das suas estruturas socioeconômicas. São manifestações como as do chefe do Executivo paranaense que demonstram claramente a diferenciação entre um projeto de governo conservador e um democrático. A opção pelo primeiro modelo leva a uma negação de direitos e se locupleta com o uso da violência para que os fins desejados sejam alcançados.

 

Debate sobre Educação deve estar na ordem do dia

 

Em São Paulo, não é muito diferente. Os professores do Estado estão em greve desde 13 de março e até agora não foram recebidos pelo governo para negociar. A APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo estima que 52% dos professores paulistas aderiram à greve, ou seja, 132 mil trabalhadores. Mesmo assim, o governador paulista mantém sua retórica ao dizer que não há greve no Estado. Os dois governos citados se negam a negociar salários e melhorias nas condições de trabalho com os servidores.

 

Recentemente o site da CUT Nacional divulgou uma entrevista com a presidenta da APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, Maria Izabel Noronha, a Bebel, onde ela diz que o modo de operação dos governos paulista e paranaense é o mesmo. “Em comum há a truculência. Quando não usam a violência explícita, como foi no Paraná, usam a implícita, atos burocráticos, proibitivos para que não possamos nos manifestar, judicializando a greve e determinando que paguemos multa em caso de bloqueios de rodovia para chamar a atenção da sociedade”, afirma.

 

O problema da Educação e o desrespeito com seus profissionais não se reduzem apenas a estes dois exemplos. Quanta violência ainda assistiremos contra os trabalhadores da educação? Em vários Estados os educadores utilizam a ferramenta democrática da greve para serem ouvidos por seus governantes. Busca-se, assim, denunciar situações que afetam a toda sociedade: a má qualidade do ensino e as péssimas condições de trabalho destes servidores. A falta de investimento na Educação também deve causar espanto e indignação. Este fenômeno deve ser combatido por toda a sociedade. Não é possível que nossos governantes fechem os olhos para este tema.

 

Entramos no século XXI e muitos dos nossos governantes não fizeram o “mea-culpa” sobre a Educação que temos e a que queremos. Não tratam com a crítica necessária a estrutura que possuem em suas redes de ensino. Não discutem a desvalorização dos nossos educadores, que não se retrata apenas por baixos salários, mas pela pouca condição de trabalho e falta de investimentos em formação permanente. Não é possível falar de Educação sem pensar em tecnologia. O universo virtual faz parte do cotidiano e ainda há estudantes que não têm acesso a este mundo. Escolas bem estruturadas e educadores motivados e bem remunerados são pré-requisitos para que avancemos em direção a Educação que precisamos.

 

Uma grande maioria de nossos governantes não ousou vislumbrar uma integração adequada entre todos os níveis de ensino. Quantos milhares de jovens se perdem na sua trajetória escolar e não conseguem completar seus estudos? Ou, mesmo que completem, qual é a qualidade oferecida? É necessário que se discuta a grade curricular em nossas redes de ensino para saber com clareza aonde há acertos e aonde ocorrem erros. Mas esta discussão não é de responsabilidade única e exclusiva dos professores. Cabe a toda sociedade, principalmente à classe trabalhadora, que em sua maioria tem seus filhos matriculados nas redes públicas, cobrar que os governantes façam e aprofundem estas discussões.  É preciso que este debate esteja na ordem do dia em nossos Municípios e Estados. Mas até quando os governantes deixarão esta discussão para depois?

 

Onda conservadora deve ser combatida

 

Está mais que comprovado que é preciso estar atento contra as investidas realizadas pelos setores reacionários da sociedade contra os trabalhadores e seus direitos. Neste sentido, uma das falas do companheiro Vagner Freitas, presidente da CUT Nacional, divulgada nesta semana ilustra bem o espírito de atenção e de luta que os trabalhadores e suas entidades representativas devem ter. “A postura neoliberal, agressiva e de direita de Richa é semelhante à agenda no Congresso Nacional, conservadora e retrógrada. Eles querem o retrocesso às conquistas das mulheres, dos jovens e dos direitos dos trabalhadores. Essa agenda permitiu ao governador paranaense cometer o massacre contra os professores. Quero deixar claro que a CUT vai lutar contra o retrocesso, contra os ataques aos direitos da classe trabalhadora”, afirma o companheiro.

 

Para encerrar, também vou fazer alusão ao um fato que foi identificado em muitos textos sobre este episódio, mas que gostaria de lembrar porque o julgo simbólico. A violência contra os professores do Paraná aconteceu um dia depois que todo o planeta comemorou o Dia Mundial da Educação, celebrado em 28 de abril. Uma data em que se comemoram os avanços conquistados e as esperanças. Mas o governo paranaense se apresentou como o arquétipo daquilo que mais desprezamos, ou seja, a violência, a intolerância, a brutalidade e tantas outras situações que diminuem a consciência de humanidade.

 

Para combater esta postura opressora, vou lembrar de um educador que mudou o modo de se pensar os modelos pedagógicos contemporâneos em todo o mundo. Estou falando do professor Paulo Freire. São muitas as citações com ensinamentos maravilhosos do mestre Paulo Freire, mas tive que escolher duas que julgo bastante pertinentes com o que vivenciamos. São elas: “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.” e “Me movo como educador, porque, primeiro, me movo como gente.” Boa sorte na luta. Somos Fortes! Somos CUT!

 

 

 

Maria Aparecida Faria é secretária geral nacional adjunta da CUT – Central Única

 dos Trabalhadores e secretária de Mulheres da CNTSS/CUT – Confederação

 Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social

 

 

 

 

 

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