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Febre amarela: regressão nas condições de saúde

Escrito po: Júliana Salles de Carvalho

09/03/2018

Há oito décadas o país não registrava ocorrência como a de agora

 

A febre amarela, assim como as outras doenças transmitidas por mosquitos, tem sua história baseada no controle que conseguimos fazer através de políticas públicas de Estado. A última ocorrência dessa doença dentro das cidades, antes da catástrofe de agora, é relatada na década de 1940. Em 2014 e 2015 foram registrados os primeiros casos dessa doença fora da zona amazônica. Em 2017, o Ministério da Saúde divulgou números alarmantes: 545 casos e 164 óbitos no período de 1º julho de 2017 a 20 de fevereiro de 2018! Número maior de casos do que somados os dos últimos 20 anos.

 

Em 2015, o crime da quebra da barragem da mineradora Samarco em Mariana alterou os ecossistemas ao longo da bacia do Rio Doce, em Minas Gerais. Há a teoria da extinção dos predadores naturais do mosquito que transmite a febre amarela nas matas, gerando a crescente transmissão da doença, o que explica o início da epidemia em 2016 em Minas Gerais. 

 

Cortes na Saúde impendem a prevenção

 

Combina-se a esse desequilíbrio o aperto das políticas de ajuste fiscais em 2016 após o golpe, com o arrocho dos gastos em políticas de saúde e prevenção. Isto provocou a explosão da doença, em cujo combate o fator primordial é a prevenção.

 

Como exemplo na cidade de São Paulo o planejamento do Dória tem a programação de fechamento de 50 UBSs - Unidades Básicas de Saúde, junto a redução do tempo de funcionamento em diversas outras. As últimas duas unidades fechadas são em plena área de risco da expansão da febre amarela, e essas unidades são responsáveis tanto pela prevenção quanto pela vacinação!

 

Não surpreende no auge do desespero ver a invasão de uma unidade na Zona Leste – UBS Jardim Santa Helena - em janeiro desse ano, pois as 300 doses de vacina disponíveis no dia não davam conta do contingente que aguardava no portão. Após isso, o prefeito disse para população não mais procurar as UBSs e sim aguardar em casa o encaminhamento de senhas, que chegam muito aquém da real necessidade.

 

Como uma cidade como São Paulo, que já em 2017 possuía uma combinação de estar ao lado dos Estados em epidemia e com a população sem vacinar, não se programou para prevenção?

 

Com a falta de planejamento falta vacina no início desse ano. Vacina produzida pela FioCruz – Fundação Oswaldo Cruz, alvo de processo escancarado de sucateamento! Nos primeiros dias de janeiro de 2018 o ministro da Saúde, Ricardo Barros, anuncia a implementação do fracionamento de doses para os Estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, tendo como base seu uso na África (Congo), para aumentar o contingente de pessoas vacinadas em um curto prazo de tempo.

 

Em 22 de fevereiro, o Ministério da Saúde divulga que está estudando “ampliar vacinação de febre amarela para todo o país”. Segundo o ministro da Saúde, estão aguardando uma nova fábrica da Libbs Farmacêutica, dentro de um acordo com transferência da produção que antes era do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos - Bio-Manguinhos, da Fiocruz, utilizando essa epidemia para privatizar a produção federal de vacinas!

 

A única estratégia para evitar a propagação da doença é a vacinação, pois não há tratamento direcionado, apenas suporte a vida de quem adoece. Com a cobertura vacinal adequada - mais de 80% de pessoas vacinadas - existiria um risco muito menor do surto em curso acontecer!

 

A realidade é que estamos frente a uma incapacidade de resposta do Estado, cuja tragédia foi anunciada e é fruto das políticas de privatizações junto à redução dos gastos em políticas públicas e preventiva de saúde. E temos, ainda, os trabalhadores adoecendo e morrendo dentro dos hospitais! 

 

 

 

 

 Júliana Salles de Carvalho é secretária de Assuntos Jurídicos do Sindicado dos Médicos de São Paulo e suplente do Conselho Fiscal da CNTSS/CUT – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social

 

 

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