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Sempre é tempo de aprender

Escrito po: Sandro Cezar

14/07/2020

Espera-se que a manifestação no Jornal O Globo, ainda que tímida e sem deixar o tom acusatório ao PT, espelhe os sinais de arrependimento pelos crimes cometidos contra a democracia ao longo de décadas

 

A democracia brasileira vem atravessando uma espécie de inferno astral. Neste caso, não é fruto da confluência dos astros, mas sim de gestos e ações de setores da grande imprensa e da direita brasileira.

 

Sempre é importante cultivar o conhecimento e louvar a capacidade intelectual, mas não para estabelecer que somos diferentes. O pluralismo de pensamentos e ideias é fundamentalmente importante para a construção de uma sociedade que respeita a diversidade, que ao fomentar o debate encontra soluções para todos.

 

No Brasil dos últimos anos vem sendo edificada a teoria de que um setor da esquerda brasileira queria controlar a mídia, impondo seus pensamentos civilizatórios ao povo. Um verdadeiro devaneio capitaneado pela maior rede de TV do Brasil, a Rede Globo, junto com o periódico da mesma família, o Jornal O Globo.

 

Os Marinhos levaram cinco décadas para se dirigirem à sociedade sobre o total apoio a uma das mais sangrentas ditaduras da América Latina. O pedido de desculpas da Rede Globo ao povo brasileiro, pelo apoio a uma ditadura que assassinou jornalistas, prendeu adversários políticos e torturou quem pensava diferente, foi tardio e envergonhado. Tenho lá minhas dúvidas se há arrependimento, ou só foi um tipo de mea culpa, expressão latina comumente usada para admissão de culpa, jogando os fatos para o momento histórico pretérito, em que o bipolarismo no mundo era culpado de tudo, durante a chamada Guerra Fria.

 

Em nossa seara da difícil tarefa de reencontrar o Brasil, com a sua vocação de ser uma grande nação, livre, soberana e democrática, surge o Partido dos Trabalhadores (PT), que de longe é, sem dúvida, a maior experiência de esquerda democrática no mundo. O surgimento do PT é parte do aprendizado da nossa sociedade. Nesta grande nau, temos tripulantes de primeira viagem, os socialistas, parte dos comunistas, dos setores progressistas da Igreja Católica, intelectuais, jovens estudantes e grande parte das lideranças e base do chamado pujante novo sindicalismo, de onde surgiu a maior liderança popular do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

 

De fato, não seria fácil de imaginar o futuro quando no fim de década de 70 do século passado surge a ideia de fundar um partido operário, que seria a voz daqueles e daquelas que eram sujeitos invisíveis: negros, professores, bancários, ecologistas, metalúrgicos, favelados, mulheres, servidores públicos. Quais eram os sonhos que moveram aqueles homens e mulheres?

 

Faço esta narrativa para jogar luz sobre as razões que fizeram este partido e as suas lideranças sobreviverem aos mais de 31 anos de cerco midiático, judicial e político. Em 1989, conforme depoimento atual do todo ex-poderoso da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, conhecido como Boni, a Rede Globo manipulou as eleições em favor do então candidato Fernando Collor de Mello contra Lula nas eleições presidenciais. Sem dúvida, isto adiou a chegada ao poder do setor de esquerda existente na sociedade, em mais de 10 anos. Ainda assim, a Rede Globo nunca desistiu de perseguir o PT e as suas lideranças.

 

Em 2002, chegava ao governo, Lula, o mais legítimo representante dos pobres. Um homem que a trajetória se confunde com a de milhões de brasileiras e brasileiros. Aquele que ao longo de décadas sempre enfatizou que a sua luta era contra a fome e a desigualdade social.

 

Nos primeiros dois anos do primeiro mandato, surge a sanha acusatória de setores do Ministério Público Federal, da mídia e de uma parcela da classe política que já enxergavam o começo das mudanças em favor do povo, a inclusão de milhões excluídos na lista de prioridades do governo Lula. Lembro-me do forte conteúdo vexatório que era atribuído ao programa de combate à fome à época o chamado “Fome Zero”.

 

A Rede Globo suspendia a programação normal para transmitir a CPMI dos Correios, desfilavam na TV apontados como bandidos os principais líderes do Partido dos Trabalhadores (PT). Tentaram fazer o povo acreditar na história do que diziam ser o maior esquema de corrupção da história do nosso país.

 

Neste momento, saltam aos olhos a tentativa de produção de um escândalo épico de suposta corrupção nos Correios, que passaria à história como "mensalão", termo cunhado para cassar o mandato do presidente Lula.

 

O debate de regulamentação dos meios de comunicação era uma ameaça para as famílias que mantêm o controle da maior parte dos meios de comunicação no país. 

 

É válido destacar que o debate de democratização dos meios de comunicação não é uma discussão sobre censura, como tentam fazer crer. Mas sim a responsabilização sobre o conteúdo divulgado, com mecanismos para que a sociedade possa inibir práticas que violem princípios democráticos, o que acontece em muitos países do mundo e que se torna ainda mais necessário no Brasil, em que cinco famílias detêm o controle da maioria dos veículos de comunicação.

 

A reação popular a essa pressão sobre o PT não tardou. Lula não só se manteve no poder, como fez em seguida o melhor governo da história do Brasil. O país passou a ser a nação cujo exemplo era observado pelo mundo, com amplo desenvolvimento econômico e fortíssima e progressiva inclusão social.  Lula terminava o mandato com o político mais popular do planeta, elegendo a sucessora Dilma Rousseff.

 

O governo do presidente Lula foi marcado por um acelerado programa de reestruturação da capacidade produtiva do Brasil, aliado com a reconstrução da máquina pública. Foram contratados milhares de servidores públicos por meio de concursos públicos.

 

A farsa da “Bolinha de Papel” foi mais um episódio produzido pela Globo. Um filme tosco estrelado pelo tucano José Serra, sendo aquela mais uma tentativa desesperada de manipulação da opinião pública para ganhar a disputa eleitoral.

 

Acredito com veemência na necessidade de se rever os mecanismos para a realização dos concursos públicos, pois advindas destas contratações surgiram castas de servidores que passaram a agir como se fossem o próprio Estado. Este modus operandis se viu notadamente em diversas instituições de Estado, “Super Procuradores da República”, “Super Juízes” e “Super Delegados” da Polícia Federal.

 

Este mecanismo faz com que surjam operações policiais, que depois do escândalo da denominada “Vaza Jato”, tomamos conhecimento que eram dirigidas pelo Juiz da Força Tarefa de Curitiba, Sérgio Moro, que junto com a Globo produzia as operações que seriam destaques no meio televisivo, gerando escândalos para influenciar em cada momento da vida política nacional.

 

Agora, sabemos de cooperações criminosas com instituições estrangeiras, sem a comunicação ao Ministério da Justiça e ao Itamarati. Até agentes do governo norte-americano participaram dos conluios contra o presidente Lula e a presidenta Dilma. Espionaram a maior empresa pública brasileira, revelando segredo de Estado.

 

Em qual país do mundo é permitido à Polícia Federal fazer escuta clandestina no telefone da presidente da República?  Como se isso não fosse suficiente, o conteúdo da gravação foi divulgado em horário nobre da principal rede de TV, a Globo, com objetivo claro de influenciar o golpe, travestido de impeachment contra a presidenta Dilma.

 

É difícil esquecer a manchete em letras garrafais no Jornal O Globo, dizendo ser de Lula o apartamento do Guarujá, o famoso triplex. Começava a ser engendrado o processo judicial real, mas com razões fictícias e inverídicas, que levou à prisão o maior líder político da história do Brasil, em jogo ensaiado entre acusação e o juiz, onde não existiu sequer o exercício do direito de defesa. O acusado tinha apelido atribuído pelo juiz, Nine (nove em inglês), referência à deficiência física causada pela perda de um dedo em acidente de trabalho anos antes, quando ocupava a função de torneiro mecânico.

 

Os episódios dantescos não estão todos relatados aqui por razão de síntese, mas os que foram enumerados dão conta do tamanho da violência cometida pelo Grupo Globo com os 30% do povo brasileiro que um importante articulista desta empresa diz o PT representar.

 

Não precisamos de perdão, mas da liberdade do direito de exercer com plenitude os direitos democráticos, sem perseguição da maior empresa de comunicação do país, que aliás é uma concessão do poder público.

 

A questão central não é que não seja possível construir uma grande concertação nacional, até entendo que seja. Mas só é possível pensar nisso com a declaração pelo Supremo Tribunal Federal da suspeição do juiz Sérgio Moro no caso das condenações de Lula, com o restabelecimento dos direitos políticos do mesmo.

 

A unidade das forças politicas do país que defendem a democracia, deve evoluir para o afastamento do presidente Jair Bolsonaro. Razões existem muito mais do que dezenas, bem como, até mesmo a declaração de abuso do poder econômico mais do que comprovado com as descobertas de impulsionamentos pagos por empresários para manipular as eleições. Isso é suficiente para ensejar a solução legal de cassação da Chapa de Jair Bolsonaro e Mourão dos cargos de presidente e vice-presidente da República, com convocação imediata de eleições presidenciais, para que o povo possa decidir o destino da nossa Nação.

 

Espero que a manifestação no Jornal O Globo, ainda que tímida e sem deixar de lado o tom acusatório ao PT, possa espelhar os sinais de arrependimento pelos crimes cometidos contra a democracia brasileira ao longo de décadas, pois vale salientar que a democracia é um princípio universal. Contudo, sempre é tempo de aprender!

 

 

 

Sandro Alex de Oliveira Cezar é presidente da CUT RJ – Central Única dos Trabalhadores do Rio de Janeiro e da CNTSS/CUT – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social

 

 

 

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