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Saúde não é mercadoria! Trabalhadores da rede privada de saúde iniciam campanha para cobrar melhores condições de trabalho à Hapvida

21/05/2024

Profissionais da saúde privada ligados à Rede Brasileira UNISaúde iniciaram, em 16/05/2024, forte mobilização em várias partes do país com uma pauta de reivindicações à operadora de saúde Hapvida.

Escrito por: Rede Brasileira UNISaúde

 

Após a fusão com o Grupo NotreDame Intermédica, a Hapvida é operadora de mais de 80 hospitais e 350 clínicas em diversos estados, além de ser administradora de um plano de saúde. Segundo seu próprio site, a empresa é capitalizada por diversos acionistas, inclusive o grupo BlackRock, sediado em Nova Iorque, um dos maiores fundos de investimento no mundo.

 

Portando faixas e cartazes com o slogan “Saúde não é mercadoria!”, os trabalhadores e trabalhadoras realizaram protestose outras ações em frente a unidades de saúde da Hapvida no Ceará, Belo Horizonte (MG), Bahia, Goiás, e o interior de São Paulo, entre outras localidades.

 

A pauta de reivindicações inclui os seguintes pleitos:

 

  • Jornada de trabalho digna - Sobrecarga de trabalho não é bom negócio!
  • Revisão do PEP (Prontuário Eletrônico do Paciente), que desumaniza o atendimento.O PEP é uma ferramenta eletrônica de gestão do trabalho, sendo implementado pela empresa em diversos locais no país.
  • Banimento total do assédio moral no ambiente de trabalho.
  • Fim da precarização dos direitos e do ambiente de trabalho - Estamos exaustos!
  • Tratamento digno aos pacientes - Paciente não é mercadoria!
  • Trabalho desumano

 

A diretora-tesoureira do SINDEESS (Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de BH e Região), Maria Josefinada Silva Souza, a Teca, é auxiliar-administrativa do Hospital Life Center, incorporado pela Hapvida quando a empresa se uniu ao GrupoNotreDameIntermédica.

 

Conforme o relato dela, a situação piorou muito desde que a maior operadora do país virou gestora do hospital. “É uma situação muito difícil! Há sobrecarga de trabalho, assédio moral. Demitiram os mais antigos para recontratar novos empregados, que não ficam porque não aguentam a pressão e os salários baixos”, diz.

 

Para piorar, a Hapvida, uma empresa extremamente lucrativa - conforme o último balanço divulgado pela empresa - é uma das poucas da região, segundo Teca, que não pagam o piso salarial da enfermagem.

 

De acordo com a Lei 14.434/22, o piso dos enfermeiros deve ser fixado em R$ 4.750, o de técnicos em R$ 3.325 e o de auxiliares e parteiras em R$ 2.375.

 

Jornada dobrada

 

Daniele Nazário da Silva, auxiliar de enfermagem no Hospital (Hapvida) Antônio Prudente em Fortaleza e Diretora de Diversidade do SindSaúde Ceará, explica que nas redes da Hapvida do estado as principais reclamações são em relação ao PEP e à jornada dobrada que muitos são forçados a aceitar.

 

“A jornada de trabalho é 12x36 horas. Porém, se falta alguém, a chefia faz sorteio para que alguém cubra o funcionário faltoso e, se a pessoa se recusar, pode ser advertida ou suspensa”, diz.

 

Essa prática, ela conta, não se restringe à unidade em que o profissional está lotado, mas às outras de que a Hapvida é dona.

 

“Muitas vezes os trabalhadores são alocados para outros hospitais da rede e, muitas vezes, essas unidades ficam distantes uma da outra”, diz. “Na realidade, eles não poderiam fazer essa exigência, mas como se trata de uma rede, muitas vezes os profissionais têm que ir para onde eles querem”, complementa.

 

Mas o principal alvo de reclamação, ela conta, é mesmo o PEP. “Esse prontuário eletrônico funciona como um farol: se está verde, okay, se fica amarelo, levou advertência e, se ficar vermelho, o trabalhador pode ser suspenso. Só que, muitas vezes, não dá para ele abandonar alguém que está com problemas graves que requerem uma atenção maior por causa de um sistema. Se o paciente estiver com parada cardíaca, como vou parar de atendê-lo para começar outro?”, questiona.

 

Além da pressão do PEP, ela diz que o acordo coletivo prevê o direito de ter uma hora de almoço, intervalo que nem sempre é cumprido. “Na vida real isso quase nunca acontece”, pontua Daniele, dizendo que há pouca mão de obra para uma infinidade de trabalho.

 

Assédio moral em alta

 

Pela descrição da presidenta do SEEB (Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia), Alessandra Gadelha, a Hapvida não tem um programa de compliance com código de ética e conduta para evitar situações de assédio moral.

 

“O Sindicato já tem uma relação um pouco conflituosa com a Hapvida desde 2017-2018, quando recebemos quantidade bem elevada de denúncias referentes a assédio moral e falta de conforto de enfermagem, que é o espaço destinado ao descanso dos enfermeiros durante a jornada de trabalho”, diz ela, referindo-se principalmente a um dos hospitais da rede, o Teresa de Lisieux.

 

A questão do conforto ainda não foi devidamente solucionada, e o assédio moral, segundo ela, parece ser uma prática dos demais hospitais da rede. “Quando passamos a dialogar com outros sindicatos por meio da UNIGlobal, tivemos a clareza de que o grupo Hapvida realmente assedia os trabalhadores. Essa foi queixa de todos os sindicatos quando sentamos para debater questões trabalhistas”, conta.

 

Sobrecarga

 

Na região de abrangência do Sinsaúde Campinas e Região os relatos se assemelham aos demais.

 

A diretora-presidenta da subseção Jundiaí do sindicato e também funcionária da Hapvida, Beatriz Lúcia de Castro, diz que os profissionais de saúde, especialmente os da enfermagem, trabalham sob verdadeiro “descaso”.

 

“No Hospital e Maternidade Paulo Sacramento, em Jundiaí, eles ficam muito sobrecarregados com a quantidade de pacientes que têm de atender ao mesmo tempo, mesmo dentro de uma escala 12x36”, diz Beatriz.

 

A situação, segundo ela, é especialmente cruel no SEA 2, que é um serviço de urgência e emergência voltado para medicação endovenosa em pacientes que estão aguardando internação.

 

“Os pacientes ficam ali um pouquinho em observação e dali saem para a internação. Há dias em que apenas um funcionário fica ali com 10, 15 pacientes para dar toda a assistência até que eles sejam internados. A sobrecarga é demais para eles”, denuncia.

 

Os problemas de assédio moral também são comuns. “Não é incomum, quando o trabalhador vai reclamar da sobrecarga, o chefe dizer – ‘ah, não está feliz? Peça a conta’”, diz.

 

Resolvidos a seguir lutando

 

Os diversos sindicatos da Rede Sindical Brasileira UNISaúde afirmam que vão continuar agindo publicamente pela melhoria nas condições de trabalho, até a empresa concordar com uma negociação nacional séria para resolver os problemas levantados.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Adriana Cardoso

Rede Brasileira UNISaúde

 

 

 

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